Palavras
da Diretora Edwilma Araujo:
Há quatro
anos, inicianmos a semeadura e hoje, começamos a colher os bons frutos. Que
Deus nos permita continuar honrando a marca IERB.
Esta conquista é resultado do apoio de pessoas como: Iran Barbosa, Ana Lúcia Vieira ,Belivaldo Chagas, Kátia Carmo, Patrícia Francisca de Matos, Thiala Melo e tantos outros que acreditam que é sim possível trabalhar com honestidade, de forma transparente, numa gestão participativa. Preciso muito de vocês ao meu lado!
Nossos
carinhosos agradecimentos a: ALANNA MOLINA, SUZANMELILA MATOS E LEANDRO CALADO,
pela bela obra, retratando o trabalho social da Escola Normal. Que vocês
possam sempre produzir trabalhos que reproduzem dignamente toda a história de
formação de professores cidadãos de Sergipe.
Minha linda normalista
Os 142 anos da Escola Normal de Sergipe fecha um
ciclo do antigo modelo da formação docente
Por
ALANNA MOLINA, SUZANMELILA MATOS E
LEANDRO CALADO
Maria do Carmo entrou na solenidade
com os olhos marejados de lágrimas, mas firme em sua posição de guarda de honra
da bandeira. A Escola Normal fazia 142 anos e ela acompanhava a Banda Cívica na
abertura da cerimônia como se a comemoração fosse pelo aniversário de um filho
querido. Ela era uma aluna dedicada e disciplinada nos tempos em que estudou na
Escola Normal de Sergipe e tinha a vida do Magistério à sua frente. Mas não seria
apenas isso que ela levaria para o resto da vida. Após 42 anos de amor à Escola
e aos 57 anos de vida, D. Carminha não deixou que a fragilidade da sua saúde a
impedisse de participar da festa.
Dona
Carminha, como é carinhosamente chamada, surpreendeu a todos pela sua força e vontade.
Ela estava hospitalizada dois dias antes da Comemoração dos 142 anos do
Instituto de Educação Rui Barbosa (IERB) – assim denominado atualmente a antiga
Escola Normal de Sergipe – e não tinha autorização médica para participar do
evento. No entanto, o sentimento falou mais alto e lá estava ela abrindo a cerimônia
com a Bandeira de Sergipe em suas mãos, marchando firmemente ao som da banda.
Banda esta que foi a pioneira do país, em 1974, a ser formada apenas por
mulheres.
Maria
do Carmo não se deixou abalar pela doença, ao contrário, fez um pedido público
aos amigos da Fanfarra para que, quando chegasse a sua hora de partir deste mundo,
ela fosse musicalmente homenageada pela Banda do IERB. Inclusive, recentemente
uma ex-integrante da Banda faleceu e, em seu enterro, foi homenageada pela
Banda Cívica da Escola em cumprimento ao seu último pedido.
Nos tempos áureos da Escola, em
meados da década de 70, as moças vestidas em seus
uniformes de “marinheiras” sentavam em suas cadeiras para uma rotina de
aprendizado. As normalistas aprendiam não somente os ensinamentos da prática
pedagógica para uma futura vida profissional, o conhecimento ia além das
matérias gerais que todos os outros colégios da época tinham. Entre a aula de
Matemática e a de História existia um ensino sobre como cuidar de bebês ou no
intervalo entre Química e Biologia podia facilmente encontrar aulas de
culinárias ou corte e costura. O importante era formar a mulher para a vida. No
final do curso a menina (agora mulher) caminharia para a vida profissional
sabendo também como ser uma excelente Dona do Lar.
A
Escola Normal pregava também ensinos religiosos e instrução moral e cívica.
Esta última, clara e perceptível quando o coral que musicalizou a cerimônia de
comemoração entoou o Hino de Sergipe. Todas as senhorinhas que ocupavam as
primeiras fileiras do auditório onde fora a solenidade, na condição de
ex-normalistas, prontamente se levantaram e elevaram a mão direita à altura do
coração. Na realidade, o mais incrível é que elas eram as únicas pessoas
(incluindo o coral) que sabiam a letra do hino do estado de cor. Maria do Carmo
estava dentre elas, e conta que nos “tempos passados” os alunos eram muito mais
respeitosos, tanto com os professores quanto com a pátria.
O
ensino cívico ocorria religiosamente todas as semanas quando, hasteada as
bandeiras estadual e nacional, o Hino Nacional e o do Estado de Sergipe eram
tocados e cantados em demonstração de amor e respeito pela pátria. E por falar
em pátria e amor pelo país, quão aguardados eram os desfiles de 7 de setembro!
Em seus uniformes em tons de azul branco as normalistas desfilavam nas ruas de
Aracaju tocando instrumentos e honrando as bandeiras da escola, do estado e
principalmente do país.
A Escola Normal surgiu no Brasil em
1838 com o intuito de fornecer qualificação para aqueles que tinham a
responsabilidade pela instrução primária (hoje, ensino básico). No entanto, o
ensino normativo só chegou a Sergipe em 1870 e foi instalado na forma de Curso
dentro do Colégio Atheneu Sergipense. O ensino normal além de representar uma
oportunidade para independência econômica e aceitação social das mulheres
também acarretou na formação de uma elite intelectual feminina que possibilitou
uma crescente valorização social. No entanto, para ingressar na Escola não era
tão fácil. As meninas tinham que passar por rigorosos exames de admissão, onde
muitas eram reprovadas. Rigor este que já mostrava um pouco da forte disciplina
que existia lá dentro.
O
local era de respeito. A escola de formação para a vida tinha exigentes
padrões. Maquiagem não era permitida, brincos muito menos. A garota tinha que
estar nas salas de aula para aprender e não para mostrar vaidade. O professor
ao entrar na sala de aula era recebido por alunas que estavam em pé esperando
um sinal do mestre para poder sentar em suas respectivas cadeiras novamente.
Com
a valorização da profissão docente, o governo de Sergipe construiu, em 1911, a
primeira sede da Escola Normal localizada na Praça Olímpio Campos, atual Centro
de Turismo da capital sergipana. E finalmente, em 1954, se muda para a sede
atual, localizada num bairro que era caracterizado como periférico de Aracaju –
fato que, dizem os críticos da época, causou uma mudança de clientela.
Maria
do Carmo estudou nesta última sede, mas sua irmã ainda frequentou a sede
anterior. Segundo D. Carminha, não houve diferença de ensino e, para ela, a
Escola não perdeu o seu valor decorrente da mudança de localidade. Muito pelo
contrário, a ex-normalista fala com saudosismo daquela época que ela queria ter
de volta.
Desde a fundação do Curso Normal em
Sergipe muita coisa mudou. O Instituto Educacional Ruy Barbosa - IERB continua
de pé e funcionando, porém sem toda a “magia” originalmente implantada em 1870.
O ensino agora é misto. Homens e mulheres estudam juntos na mesma sala de aula.
O processo de admissão agora é feito por matrícula, deixando para trás o
processo seletivo por prova que era necessário para “peneirar” as moças que
tinham interesse em se formar pelo Curso Normal.
Atualmente,
o IERB está com sua última turma do curso normal, composta por 236 alunos
matriculados nos turnos da manhã e noite. O encerramento do curso normal não é
o fim do IERB. A partir de 2013 o Instituto será reformado para se tornar um
centro de formação dos professores, oferecendo cursos de secretaria escolar,
alimentação escolar, multimeios na escola e infraestrutura escolar.
No
entanto, o que mais se perdeu ao passar desses 142 anos foi o respeito pelo
professor. Antigamente era o professor quem comandava a sala de aula. Chamado
de mestre, ele era tratado como um ser extremamente superior. Tudo o que o
professor falava deveria ser anotado com cautela e aprendido com extrema
importância, pois poderia ser cobrado a qualquer momento e coitada da aluna que
não soubesse responder. Punições existiam e a aluna deveria ter cautela caso
não quisesse repetir o ano – a maior humilhação possível para uma normalista.
Antigo uniforme
das normalistas
|
“Vestida de azul e
branco, trazendo um sorriso franco num rostinho encantador Minha
linda normalista rapidamente conquista meu coração sem amor”.
A música de Nelson Gonçalves exprime bem o sentimento que fica de uma época que
deixa saudade. Uma época que mostrou um novo horizonte para as mulheres, onde a
escola era responsável pela formação da menina em mulher.
A importância do resgate à história
docente de Sergipe é o fato inspirador para a criação do futuro Museu do
Professor, onde todas as lembranças da Escola Normal continuarão vivas, apesar
de passadas muitas gerações. Mas a saudade foi tanta que a criação do museu
parecia muito distante e a Escola Normal, em meio às comemorações do seu
aniversário, foi tema de exposição no Museu da Gente Sergipana. Dentre tantas
coisas antigas que lá estavam expostas, a ex-normalista e ex-professora do
IERB, Maria de Lurdes, emocionou-se ao ver o antigo fardamento vestindo uma
manequim. Dona Lurdinha, aos 80 anos, fez uma verdadeira viagem no tempo ao
descrever como era a sua vestimenta de escola, e ainda detalhou exatamente as
diferenças que percebeu entre o uniforme por ela utilizado e o exposto no
Museu. “Isso era maior aqui, mas isso era menor ali”, dizia pontualmente.
Sentimento era uma coisa que não faltava em meio a tantas recordações. É
exatamente por isso que se devem eternizar essas memórias.
O primeiro “Livro
de Ponto” (datado de 1875), Certidões de Nascimento e inúmeras antigas
fotografias. Tudo o que se registrou por meio de impressão na antiga Escola
Normal de Sergipe está inserido em um projeto de digitalização e catalogação
para um futuro arquivo público de tudo o que fez a história daquele local. Esse
projeto, no entanto, não serve apenas de pesquisa para futuros historiadores,
mas configura, sim, um trabalho social de resgate e resguardo de uma memória há
tanto vivida e hoje, 142 anos depois, tão comemorada.
Em
comemoração ao aniversário da Escola, foram lançados o Símbolo do Museu dos
Educadores Sergipanos e o Selo Comemorativo, em parceria com os Correios, além
da entrega de Medalhas de Honra ao Mérito Ruy Barbosa às personalidades de
destaque na educação sergipana. Uma das homenageadas – e não poderia deixar de
ser – foi Dona Carminha. "A emoção é grande em participar desde momento
tão importante, que resgata a memória do IERB. Eu me sinto recompensada com
essa homenagem e muito feliz por fazer parte dessa história”.
Todas
essas lembranças, que antes viviam apenas na memória das ex-normalistas, poderão
ser eternizadas e assim viver no presente de inúmeras gerações futuras. Para
todos que comemoraram os 142 anos da Escola Normal de Sergipe, a conquista é
imensa e o reconhecimento é o fator que mais importa. E Dona Carminha, depois
de aluna e professora, virou um símbolo de força e amor pela educação.